domingo, 20 de abril de 2008

Doidas e santas (vamos abrir o convento ou não?)


Uma amiga de comunidade postou num tópico o seguinte texto...

“Estou no começo do meu desespero e só vejo dois caminhos: ou viro doida ou santa.!
São versos de Adélia Prado, retirados do peoma “A Serenata”. Ela narra a inquietude de uma mulher que imagina que mais cedo ou mais tarde um homem virá arrebatá-la, logo ela que está envelhecendo e está tomada pela indecisão – não sabe como receber um novo amor não dispondo mais de juventude. E encerra: “De que modo vou abrir a janela, se não for doida? Como a fecharei, se não for santa?”
Adélia é uma poeta danada de boa. E perspicaz. Como pode uma mulher buscar uma definição exata prá si mesma estando em plena meia-idade, depois de há ter trilhado uma longa estrada, onde encontrou alegrias e desilusões – e a gente sabe como as desilusões devastam -, terá que ser meio doida. Se preferir se abster de emoções fortes e apaziguar seu coração, então a santidade é a opção. Eu nem preciso dizer o que penso sobre isso, preciso?
Mas vamos lá. Prá começo de conversa, não acredito que haja uma única mulher no mundo que seja santa. Os marmanjos devem estar de cabelo em pé: como assim, e a minha mãe???
Nem ela, caríssimos, nem ela.
Existe mulher cansada, que é outra coisa. Ela deu tanto azar em suas relações que desanimou. Ela ficou tão sem dinheiro de uns tempos para cá que deixou de ter vaidade. Ela perdeu tanto a fé em dias melhores que passou a se contentar com dias medíocres. Guardou sou loucura em alguma gaveta e nem lembra mais. Santa mesmo, só Nossa Senhora, mas, cá entre nós, não é uma doideira o modo como ela engravidou? ( Não se escandalize, não me mande e-mails, estou brin-can-do).
Toda mulher é doida. Impossível não ser. A gente nasce com um dispositivo interno que nos informa desde cedo que, sem amor, a vida não vale a pena ser vivida, e dá-lhe usar o nosso poder de sedução para encontrar the big one, aquele que será inteligente, másculo, se importará com nossos sentimentos e não nos deixará na mão jamais. Uma tarefa que dá prá ocupar uma vida, não é mesmo? Mas além disso, temos que ser independentes, bonitas, ter filhos e fingir de vez em quando que somos santas, ajuizadas, responsáveis, e que nunca, mas nunca, pensaremos em jogar tudo pro alto e embarcar num navio pirata comandado pelo Johnny Depp, ou então virar loura e cafetina, ou sei lá, diga aí uma fantasia secreta, sua imaginação deve ser melhor que a minha.
Eu só conheço mulher louca. Pense em qualquer uma que você conhece e me diga se ela não tem ao menos três dessas qualificações: exagerada, dramática, verborrágica, maníaca, fantasiosa, apaixonada, delirante. Pois então. Também é louca. E fascina a todos.
Todas as mulheres estão dispostas a abrir a janela, não importa a idade que tenham. Nossa insanidade tem nome: chama-se Vontade de Viver até a Última Gota. Só as cansadas é que se recusam a levantar da cadeira para ver quem está chamando lá fora. E santa, fica combinado, não existe. Uma mulher que só reze, que tenha desistido dos prazeres da inquietude, que não deseje mais nada? Você vai concordar comigo: só se for louca de pedra."

Martha Medeiros
O Globo
13.04.2008



Ao q meu comentário foi:

Belo texto e ótima escolha , eu concordo e assino em baixo. Acho q todas nós temos mesmo um pouco de santas quando doamos nosso amor incondicional aos nossos filhos e chegaríamos a doar nossa vida por eles.
Somos Santas quando amamos e loucas tb pq nos entregamos por inteiro, pelo menos eu sou louca ou será q sou santa quando digo q essa conduta é geral? Ou será q sou santa ou louca por ainda acreditar no ser humano, q ainda é possível resgatar de dentro de cada um de nós o q temos de melhor e deixar adormecido em nós , escondidinho, o q temos de pior? Bem a fé tb é algo q santifique ou é loucura? Q dúvida amiga.
Mas tb já senti vontade de embarcar num navio pirata e sumir, quem nunca sentiu? Tb já senti medo de me jogar novamente na aventura q é recomeçar, já quebrei a cara, já levantei, ja cai de novo e entre tombos, quedas e tropeços continuo a caminhar, loucura ou não? Boa pergunta.
Mas ser santa é desistir e se deixar levar pela maré da vida? Nem Nossa Senhora q é santa fez isso, não desistiu de lutar pelo q seu filho pregava, a seu modo ela lutou e para a época em q vivia não foi "ajuizada" e não se acomodou, ela foi uma mártir . Nós mulheres, todas nós, carregamos em nós esse legado de amor, somos mártires pela fé, fé no q cada um de nós acredita, então somos santas ou não?rs
Todas temos dentro de nós a paixão pela vida, loucura? A vontade de experimentar o novo, loucura? A determinação de sermos felizes, loucura? Somos feitos de bons pensamentos, santidade? E curiosidade pelo desconhecido, loucura? Temos em nossos corações sentimentos de amor, bondade, humildade, respeito e solidariedade que nos santificam e em contrapartida ao mesmo tempo sentimos raiva, mágua, somos mesquinhas e egoistas, somos loucas?
Somos seres complexos todos nós, acredito q santos e loucos dependendo do q cada um de nós deixa aflorar em determinada situação de nossa vida, mas existe maior loucura ou prova de santidade do q o simples ato de viver? Bem só sei q minha janela tá aberta, arejando minha casa q é meu espírito e q sou santa o bastante para acreditar no poder do amor e louca o bastante para mesmo com as porradas q recebo da vida não desistir e resistir aos impetos q as vezes tenho de fechar a janela e me esconder debaixo da cama.

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