sábado, 18 de junho de 2011

Elegância



Há algo muito difícil de se ensinar e que, talvez por isso, esteja cada vez mais raro: a elegância do comportamento.

É um dom que vai muito além do uso correto dos talheres e que abrange bem mais do que dizer um simples obrigado, diante de uma gentileza.

É a elegância que nos acompanha da primeira hora da manhã até a hora de dormir e que se manifesta nas situações mais prosaicas, quando não há festa alguma nem fotógrafos por perto.

É uma elegância desobrigada.

É possível detectá-la nas pessoas que elogiam mais do que criticam.

Nas pessoas que escutam mais do que falam, e quando falam, suas palavras são melhores do que o silêncio e passam longe da fofoca, das pequenas maldades ampliadas no boca-a-boca.

É possível detectá-la nas pessoas que não usam um tom superior de voz ao se dirigir às pessoas simples que trabalham como garçons, sommeliers, atendentes, etc....

Elegância é possível de ser detectada também nas pessoas pontuais, que levam em consideração o tempo dos outros.

Elegância está presente também nas pessoas que evitam os assuntos constrangedores porque não sentem prazer algum em humilhar o seu próximo.

Elegante é quem demonstra interesse por assuntos que desconhece, é quem presenteia fora das datas festivas, é quem cumpre o que promete e, ao receber uma ligação, não recomenda à secretária que pergunte antes quem está falando e só depois manda dizer se está ou não está.

Oferecer flores é sempre elegante.

É elegante não ficar espaçoso demais. É elegante você fazer algo por alguém, e este alguém jamais saber o quanto você teve que se arrebentar para fazê-lo.

É elegante ter uma bela personalidade.

É elegante não falar de dinheiro em bate-papos informais.

É elegante retribuir carinho e solidariedade.

É elegante o silêncio, diante de uma rejeição...

Sobrenome, jóias e nariz empinado não substituem a elegância do gesto.

Não há livro que ensine alguém a ter uma visão generosa do mundo, a estar nele de uma forma não arrogante.

É elegante a gentileza.

Atitudes gentis falam mais que mil imagens.

Abrir a porta para alguém, dar o lugar para alguém sentar, procurar sorrir, oferecer ajuda, olhar nos olhos ao cumprimentar e ao conversar sempre é muito elegante e faz muito bem a alma de quem recebe e de quem faz.

Pode-se tentar capturar esta delicadeza natural pela observação e empenho sincero, mas tentar imitá-la falsamente é improdutivo.

A saída é desenvolver em si mesmo a arte de conviver, que independe de status social.

Vamos pedir licença para o nosso lado brucutu, que acha que "com amigo não tem que ter estas frescuras", pois se os parentes, amigos e mais chegados não merecem cordialidade, os desconhecidos ou desafetos é que irão desfrutá-la?

Educação enferruja por falta de uso e não é frescura.

Seja elegante ... pelo menos tentar já é um começo.

É elegante saber divergir, saber respeitar a opinião alheia, saber defender a opinião alheia, mesmo que aquela nos ofenda....

É elegante saber somar e não dividir...

é elegante lutar pelos seus pontos de vista desde que saibamos argumentar...

A elegancia é a arte de não se fazer notar, aliada ao cuidado sutil de se deixar distinguir.

(Paul Valéry)


Um lindo texto sobre a importância do resgate dos valores, afinal ser elegante é ter valores e também resgatar a simplicidade no agir, valorizando pessoas e sentimentos. As vezes acho que nasci mesmo na época errada porque valorizo muito esses pequenos gestos, fico vendo filmes antigos e percebo como realmente muita coisa mudou, como em nome da dita "modernidade" muitos valores foram caindo em desuso e hoje são considerados ultrapassados mas enxergo tudo isso como apenas uma desculpa do próprio ser humano, para não se cobrar ou ser cobrado, pela sua cegueira ou descaso, diante de tanta coisa errada. É realmente uma pena que a maioria das pessoas prefiram banalizar a elegância como um mero sinônimo de se vestir bem, porém, graças a Deus, ainda existem aqueles, que assim como eu, a entendem como uma forma de ser, pensar, agir e sentir .



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